Oasis – Definitely Maybe: A estreia de uma geração

Em mais um episódio da minha saga de ouvir os 1001 discos para ouvir antes de morrer, decidi mergulhar no álbum de estreia do Oasis, Definitely Maybe. Considerado um marco do britpop dos anos 90, o disco traz aquela energia juvenil que mistura sonho, ingenuidade e uma confiança quase inconsciente de quem ainda está descobrindo até onde pode chegar.

A voz do Noel soa claramente mais jovem. E, com todo respeito — sou muito fã dele —, sua presença no disco só não parece amadora graças ao apoio da guitarra do seu irmão, Liam. É interessante como o Oasis não força a barra com distorções exageradas, mesmo sendo uma banda dos anos 90, época em que a sujeira do grunge ainda ecoava forte. O baixo garante que a guitarra não soe seca ou estridente, e apesar de simples, sua sincronia é tão nítida que dá a impressão de que baixo e guitarra são tocados pela mesma pessoa.

Uma característica marcante dos anos 90 que aparece aqui é a despreocupação com o virtuosismo. Mesmo sendo um guitarrista talentoso, Noel prefere manter a música simples, sem encher as faixas de melodias apenas por capricho. A mixagem da voz é sutil, brincando com efeitos de chorus que dão um ar cristalino, moderno e radiofônico — claramente uma herança do Nevermind do Nirvana, mas com o toque próprio da banda. O compressor de voz também tem papel essencial nessa sonoridade.

Os falsetes de Noel funcionam justamente porque a produção não tenta transformá-lo na estrela absoluta. Sua voz caminha lado a lado com a guitarra, como se ambas se apoiassem sem competir. Ele alonga as vocais para se encaixar aos instrumentos, criando uma verdadeira dança de frequências. Dá a impressão de duas guitarras em sintonia perfeita, mas não divididas em solo e harmonia — é uma sinergia natural, como se fossem uma só.

Liam aproveita para experimentar efeitos na guitarra, arranhando as cordas com a palheta em alguns começos de faixa, quase como se criasse pequenos interlúdios. Também há backing vocals que supostamente são dele, bem pontuais, reforçando os falsetes do Noel. A segunda guitarra com distorção discreta, junto ao baixo, dá aquele peso extra que move o álbum.

A bateria, por sua vez, é simples e jovem, sem exageros. O baterista parece ter consciência da importância de dosar: em momentos, deixa apenas os pratos acompanhando o baixo, reforçando a característica radiofônica do som. Nem todos sabem fazer músicas que agradam multidões sem soar artificiais, mas o Oasis consegue — e isso é um dom.

As vocalizações, em certos momentos, funcionam quase como uma terceira guitarra. A bateria também tem seus destaques, abrindo ou encerrando músicas, mostrando a dinâmica do álbum. As melodias vocais são feitas para estádios inteiros cantarem junto, mesmo sem conhecer a letra — é contagiante.

O disco transmite uma ingenuidade bonita. Logo na primeira faixa, quando Noel canta sobre ser um astro do rock, sentimos o sonho dos integrantes pulsando em cada acorde. A porrada mais forte vem em “Bring It On Down”, com bateria potente que lembra o punk, mas em andamento mais lento — algo que até remete à “Conexão Amazônica” da Legião Urbana. Aqui Noel canta menos, mas sua voz soa quase como uma extensão da guitarra de Liam, fundindo-se num só instrumento.

Em “Digsy’s Dinner”, um teclado aparece discretamente por alguns segundos antes de sumir — um detalhe que mostra a abertura da banda para experimentação e evita a previsibilidade. Já no encerramento, “Married With Children” traz o violão em destaque, dando um desfecho mais tranquilo ao álbum.

Definitely Maybe não é apenas a estreia do Oasis. É um registro sincero de juventude, sonhos e energia bruta — o início de uma das maiores bandas britânicas dos anos 90.

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