Apesar de ser considerado punk, o New York Dolls não é aquele soco no ouvido cheio de adrenalina que encontramos em bandas como Sex Pistols e Ramones. Tem outra pegada: menos agressividade, mais atitude.
A voz do vocalista tem uma rouquidão interessante nas notas graves, mas quando ele entra em segundo plano, soa limpa — quase como se estivesse cantando de dentro de um microfone diferente. Essa alternância traz um equilíbrio musical que me fisgou.
E o teclado? Em um disco de “punk”, esse elemento foi uma grata surpresa — ele suaviza o som e adiciona uma leveza inesperada. A mixagem, por sua vez, é limpa o suficiente para tocar em qualquer radinho da década de 70, mas sem tirar o caráter cru e teatral da banda.
As guitarras permanecem distorcidas, com a mixagem bem ajustada — o som é punk, mas com clareza. A voz, propositalmente diminuída, parece lutar por espaço, revoltando-se contra os instrumentos, em uma entrega visceral.
O baixo aparece de forma generosa (nicely balanced, por Todd Rundgren, que produziu o álbum em 1973). A banda traz ousadia nas cordas e instrumentos fora do padrão punk — como um violão dedilhado — algo que definitivamente o Ramones jamais fariam.
O som da bateria é contido, elegante. Eu às vezes até escuto algo que soa como metais — talvez um trompete — ou uma gaita; elementos experimentais que só reforçam que a banda não estava pensando em ser comercial. Em certos trechos, há pequenas falhas ou notas que parecem intencionais: não soa bem ensaiado, soa autêntico.
Adoro o uso do pan estéreo e como eles dão espaço aos instrumentos, especialmente em CDs antigos. Em faixas mais agitadas, a voz fica abafada — como se estivéssemos em um show intimista num palco pequeno, onde o vocalista grita do fundo do poço para ser ouvido.
Algumas sessões parecem usar sintetizador para dar um brilho extra à guitarra — simples, mas marcante. A guitarra se expressa, sem exageros virtuosistas, mas com propósito e emoção. Quando as vozes são duplicadas, têm um efeito quase coral que fica lindo no meio de uma música punk.
O vocal principal é tímido, como se precisasse dos instrumentos para se existir — funcionamento coletivo, não estrelismo. Em outros momentos, ouço algo que talvez seja um chocalho, substituindo pratos da bateria; uma experimentação sutil e eficaz.
O uso de reverb dá à voz uma profundidade quase etérea, como se estivéssemos em um baile retrô. Há vocalizações tratadas como sintetizadores — outro toque experimental bem interessante.
No fim das contas, o New York Dolls soa como uma trilha sonora perfeita para Peaky Blinders. Tem essa mistura de elegância urbana e rebeldia glam — exatamente o que define esse álbum pioneiro no que viria a ser o proto-punk e o glam rock americano.
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