É importante começar dizendo que este álbum está na lista dos 1001 álbuns para ouvir antes de morrer, mas a minha imersão nele veio principalmente após assistir ao documentário Jeen-Yuhs, sobre Kanye West. Sinceramente, eu nunca dei tanta atenção ao Kanye até começar a ver sua trajetória de perto, e aqui vai minha análise sobre tudo o que acontece até a concretização de The College Dropout.
O Kanye passou cinco anos produzindo esse álbum, e isso se reflete em como ele soa como uma verdadeira história — evidente nos trechos em que ele conversa diretamente com o ouvinte, entre blocos de músicas. Fico me perguntando se essa ideia já existia desde o início ou se foi algo que amadureceu com o tempo. No documentário, vemos um Kanye subjugado como rapper, mas já amado como produtor. Ou seja, nesse álbum ele tinha a missão de se provar. E é por aí que começo a análise, pelo lado produtor:
Kanye é extremamente rico em referências, e o que mais salta aos ouvidos são os samples. A genialidade dele está em inserir elementos inusitados: crianças cantando em uma faixa que fala sobre infância, uma música sem beat, sustentada apenas por um coral e piano discreto, ou até o uso de autotune entre 1999 e 2004 de um jeito que “derruba a cadeira”. Lembrando: no Brasil o autotune só foi popularizado na década passada, e até hoje é mal falado. Kanye já usava de forma robusta e criativa, não como muleta para esconder desafino, mas como instrumento sonoro. Ele canta afinado, constrói camadas de backing vocals limpos, e quando recorre ao autotune, deixa explícito que está usando, transformando a voz em textura, não em disfarce.
Até os samples de beat funcionam como instrumentos próprios. Muitas vezes ele adiciona sintetizadores que dão profundidade, como se cada voz, grito ou até som de animal fosse transformado em um novo elemento. E ainda assim, tudo se ancora em instrumentos convencionais para manter a ambientação natural. Se tivesse que resumir suas produções em uma palavra, seria: elegância.
Os beats são muito diferentes, tanto para a época quanto para hoje. Kanye não fica preso ao boom bap padrão. Aliás, nem sei dizer se todos os beats cabem em uma vertente do rap, pois são disruptivos, fogem do BPM usual e ainda assim soam como clássicos old school. Os violinos acelerados nos instrumentais são quase mágicos. Ele também distorce a própria voz a ponto de parecer outra pessoa, criando a sensação de múltiplas personalidades dentro do mesmo álbum.
E os feats falam por si: Jay-Z, Jamie Foxx (com uma performance vocal incrível) — Kanye estava bem acompanhado e protegido pela Rock-A-Fella.
Claro, dá para sentir alguns limites da tecnologia da época, como compressores duros que hoje soariam mais suaves. Mas o uso de pan é excelente, a distribuição de frequências mantém cada sample nítido, e mesmo com tantos elementos, nunca soa poluído. Isso exige um tato absurdo. Como produtor, sei o quanto é fácil cair nessa armadilha — e Kanye a evita como um verdadeiro maestro.
No fim das contas, não tem como negar: Kanye West é o melhor diretor musical do planeta.
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