Elliott Smith – Figure 8: Entre o pub alternativo e a trilha sonora de série

 Esse disco é curioso. Em vários momentos, senti como se estivesse assistindo a uma audição num show de talentos ou num pub alternativo, daqueles que costumam ter noites de blues.

O ponto alto é, sem dúvida, o teclado. Ele adiciona profundidade, criando camadas para o ouvinte “descascar”. Na maior parte do tempo, ele aparece com timbre de piano, acompanhando ou complementando a melodia do vocal. Outras vezes, o teclado se arrisca, subindo e descendo a escala, mudando a direção da música de forma fluida. E, quando Elliott troca para um sintetizador com distorção, o contraste funciona surpreendentemente bem, sem perder a harmonia com o piano.

O álbum também faz variações inesperadas: há faixas em que o violão domina sozinho, muitas vezes soando como gravações ao vivo, com direito a palmas e assobios da plateia. Esse clima intimista me fez imaginar que o repertório caberia bem tanto em um show de talentos quanto num casamento.

Curiosamente, quando aparecem dois violões, o som fica mais evidente e polido — provavelmente gravado em estúdio. Já a voz de Elliott não é do tipo que impressiona pela potência, mas ele sabe usar bem o que tem: os backing vocals, falsetes e oitavas encaixam com naturalidade, e esse recurso ele repete também no piano e na guitarra, criando um efeito agradável.

As guitarras, quando surgem, enriquecem o arranjo. E, ao contrário do violão, que entrega qualquer deslize técnico, a distorção da guitarra suaviza imperfeições e mantém a atmosfera envolvente.

No fim, o que mais me chama atenção é o sentimento na produção. Mesmo sem ser um virtuose, Elliott parece alguém que se entrega ao processo e busca fazer acontecer de um jeito ou de outro. É um álbum que, facilmente, poderia servir como trilha sonora de uma série dos anos 2000 — algo como How I Met Your Mother.

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