Em mais um episódio da minha saga pelos 1001 álbuns para ouvir antes de morrer, escolhi mergulhar em Dig Your Own Hole, segundo álbum de estúdio dos ingleses do The Chemical Brothers, lançado em 1997. E que viagem!
Logo de cara, os dois elementos que mais saltam aos ouvidos são o baixo e a bateria — que, confesso, nem sempre dá pra perceber se é digital ou acústica. Mas isso já diz muito sobre o espírito do disco: puro groove, eletrizante e imprevisível. É como se houvesse dois produtores, um cuidando dos elementos eletrônicos e outro dos orgânicos, e a sincronia entre eles é absurda. Em alguns momentos surgem apitos, metais, sons metálicos e inesperados — como um drop numa pista — que injetam energia e movimento na música.
O álbum brinca com o tempo e com a nossa expectativa. Reduz o bpm no meio do caminho, prepara nossos ouvidos para transições mais lentas, alterna contratempos, troca a caixa pelo snare e depois retorna à batida tradicional num jogo de tensão e alívio. Tudo isso embala a gente como se estivéssemos dentro de um videogame: PS1, PS2… jogos de adrenalina, campeonatos de skate, replays das melhores manobras de um Fifa Street ou até mesmo as intros de um GTA.
Os vocais aparecem pontualmente, e é difícil distinguir se foram gravados especialmente para o álbum ou sampleados — e essa dúvida faz parte da mágica. Eles soam distorcidos, com aquele tom de rádio mal sintonizado, interferências deliciosas que misturam altas frequências com texturas experimentais.
O disco flerta com a música de rave, mas é muito mais que isso: ele soa como trilha sonora de manobras, aventuras, improviso. Não é à toa que se tornou um clássico: foi o primeiro álbum dos Chemical Brothers a alcançar o topo das paradas britânicas, trazendo hits como Setting Sun, Block Rockin’ Beats, Elektrobank e Where Do I Begin. Noel Gallagher (Oasis) e Beth Orton também aparecem como convidados nos vocais.
A crítica da época descreveu Dig Your Own Hole como uma “beleza selvagem” que desafiava o conflito entre rock e techno, misturando sirenes rave, psicodelia, pop e energia quase industrial sem perder a leveza e a criatividade.
👉 https://www.youtube.com/watch?v=9e2txAO4pzA&ab_channel=LoneWolf669 👈
Ouvir esse álbum hoje é entender porque ele figura em tantas listas dos melhores discos dos anos 90 e do Reino Unido. É um disco excêntrico, ousado, e que ainda soa atual, como se fosse trilha sonora para a adrenalina da vida. Um verdadeiro clássico — e um prazer descobrir que o groove dos Chemical Brothers continua irresistível mesmo décadas depois.
0 Comentários