Em mais um episódio da minha jornada ouvindo os 1001 discos pra ouvir antes de morrer, escolhi um nome que já tinha ouvido por aí: Pavement, com o disco Crooked Rain, Crooked Rain.
Logo de cara, achei difícil acreditar que esse álbum fosse dos anos 90. Lançado em 1994 — auge do grunge e da distorção pesada — ele tem uma pegada muito mais branda e sutil. Nada de pancadaria sonora; aqui o charme está em outro lugar.
A guitarra é o elemento principal. Alterna entre riffs melódicos e solos sem exagero, com passagens que soam quase como erros propositais ou mudanças abruptas de escala — muito próximas do espírito do blues. Em certos momentos, me senti num clube underground, vendo uma banda de blues alternativo improvisar enquanto o tempo desacelera ao redor.
Apesar de estar em um disco dos anos 90, ele soa moderno: tem hora que parece garage rock dos anos 2000, tem hora que flerta com o indie mais experimental dos anos 2010. A produção não é de enfeite — os vocais são crus, sem duplicações ou efeitos dramáticos. Mas são usados com muita sensibilidade, quase como se a voz entrasse em dueto com a guitarra em certos trechos. É como se a intenção fosse transmitir uma sensação, não impressionar.
A bateria é discreta, mas eficiente. Provavelmente uma escolha de mixagem. Nada se sobrepõe — tudo respira. E o resultado é uma harmonia que te transporta para uma cozinha moderna, enquanto você prepara um almoço ouvindo algo que parece ter vindo do futuro.
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A versão que escutei foi a remasterizada no YouTube, o que pode ter influenciado na clareza dos médios e na presença geral. Mesmo assim, a vibe do disco é o que mais marca: relaxado, mas inquieto. Simples, mas nada óbvio.
É um álbum que se move por sensações, construído mais pela estética do inacabado do que pelo virtuosismo. É música que quer dizer algo... mas deixa você decidir o quê.
E aí, já ouviu esse disco? Vale cada minuto — principalmente se for lavando a louça.



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